sábado, 12 de janeiro de 2008

CANTORIA EM SÃO PAULO


CANTORIA EM SÃO PAULO

A Pluricultural e o espeço Clube da Cana estão promovendo neste sabado dia 12/01 o "TRIBUTO A CANTORIA COM HOMENAGEM AO ELOMAR" com o cantador Dell Miranda e convidados.


Uma noite de voz e violão em que o artista apresentará além de suas composições, fará uma releitura desse importante movimento da musica brasileira, executando versões de classicos do estilo Cantoria e de cantadores como Dercio Marques, Xangay, Geral Azevedo, Zezinho Colares, Jatobá, Edigar Mão Branca entre outros. O artista ainda fará um passeio pelos cocos de Jacinto Silva, Jackson do Pandeiro e ritmos do folclore brasileiro.


Na abertura será feita uma homenagem ao grande mestre Elomar em um modulo todo dedicado a esse que é um dos mais importantes artistas brasilieros. Serão executadas versões de musicas como Campo Branco, Canto do Guerreiro Mongoió, Arrumação, Curvas do Rio, O Violeiro e outras perolas do mestre.


DELL MIRANDA EM

"TRIBUTO A CANTORIA COM HOMENAGEM AO ELOMAR"

Local: CLUBE DA CANA

Endereço: Rua Barão de Tatuí, 274, Santa Cecília, São Paulo

Reservas e informações: (11) 3663.1171

Dia 12/01 sabado às 20:30


DELL MIRANDA


Sergipano de Aracaju, cidade inserida em um território rico em cultura popular, berço de importantes folguedos que compõe o cenário da arte brasileira, terra de Arthur Bispo do Rosário, Santo Souza, Silvio Romero, entre outros ilustres que assim como esses, fizeram arte através da cultura popular, está também à figura de Wendell da Silva Miranda ou apenas Dell Miranda, cantador que construiu sua identidade na raiz do que seus olhos de criança viram a vida inteira: folguedos, repentes, cocos, quadrilhas juninas, excelências, pífanos, cordel e viola.


Com a proposta de renovar a musicalidade dita regional em suas varias vertentes, uma vez que suas influencias transitam por diversos sons e ritmos, entre eles estão presentes também o blues, o rock e a soul music, o que torna o trabalho produzido por esse artista, pluricultural, permitindo apenas um rotulo: eclético.


Temáticas regionais, essa é a principal base de sua identidade musical em especial e à frente de todas elas está o Coco, a grande arte de inverter o tempo dentro do mesmo ritmo, quebrar a frase, esticar uma palavra e encurtar outra e no final chegar na hora certa sem perder o tempo, isso é coco.


Dell Miranda, ex-guitarrista da banda Karne Krua, integrante do quarteto de cantoria “Cantadores dos Quatro Cantos”, fundador da banda Batequejé, produtor cultural, violonista, compositor, pesquisador da cultura popular, definitivamente artista.




ELOMAR

por Vinicius de Moraes.


"A mim me parece um disparate que exista mar em seu nome, porque um nada tem a ver com o outro, No dia em que "o sertão virar mar", como na cantiga, minha impressão é que Elomar vai juntar seus bodes, de que tem uma grande criação em sua fazenda "Duas Passagens", entre as serras da Sussuarana e da Prata, em plena caatinga baiana, e os irá tangendo até encontrar novas terras áridas, onde sobrevivam apenas os bichos e as plantas que, como ele, não precisam de umidade para viver; e ali fincar novos marcos e ficar em paz entre suas amigas as cascavéis e as tarântulas, compondo ao violão suas lindas baladas e mirando sua plantação particular de estrelas que, no ar enxuto e rigoroso, vão se desdobrando à medida que o olhar se acomoda ao céu, até penetrar novas fazendas celestes além, sempre além, no infinito latifúndio.


Pois assim é Elomar Figueira de Melo: um príncipe da caatinga, que o mantém desidratado como um couro bem curtido, em seus 34 anos de vida e muitos séculos de cultura musical, nisso que suas composições são uma sábia mistura do romanceiro medieval, tal como era praticado pelos reis-cavalheiros e menestréis errantes e que culminou na época de Elizabeth, da Inglaterra; e do cancioneiro do Nordeste, com suas toadas em terças plangentes e suas canções de cordel, que trazem logo à mente os brancos e planos caminhos desolados do sertão, no fim extremo dos quais reponta de repente um cego cantador com os olhos comidos de glaucoma e guiado por um menino - anjo a cantar façanhas de antigos cangaceiros ou "causos" escabrosos de paixões espúrias sob o sol assassino do agreste.


Elomar nasceu em Vitória da Conquista, cidade que também deu vez a Glauber Rocha e Zu Campos, e depois de formar-se em arquitetura pela Universidade Federal da Bahia, ocupa atualmente o cargo de Diretor de Urbanismo em sua cidade. Mas do que gosta realmente é de sua caatingueira, uma das mais ásperas do sertão brasileiro, onde cria bodes e carneiros. Já me foi contado que um de seus reprodutores, o famoso bode "Francisco Orellana", quando a umidade do ar apresenta seus índices mais baixos - que usualmente é 10 graus - senta-se em posição estratégica sobre as patas traseiras e não se peja de urinar na própria boca, de modo a aproveitar, num instintivo e engenhoso recurso ecológico, a própria água do corpo para dessedentar-se


E tem a onça. Vez por outra, a madrugada restitui a carcaça sangrenta de um bode ou um carneiro, e todas as preocupações cessam, a não ser chumbar a bicha. E a conversa entre os fazendeiros fica sendo apenas essa: onça, suas manias, suas manhas, seus pontos fracos.


Todo mundo se oncifica. Elomar sai à noite para tocaiá-la, e quando a avista só atira nela de frente.- Um bicho que vem de tão longe para matar meus bodes, esse eu respeito! - diz ele em seu sotaque matuto (apesar da boa cultura geral que tem) e que faz questão de não perder por nada, enojado que está da nossa suposta civilização.


Quando lhe manifestei desejo de passar uns dias em sua companhia e de sua família (Elomar é casado e tem um par de filhos, sendo que a menina tem o lindo nome de Rosa Duprado) para descobrir, em sua companhia e ao som do excelente violão que toca, essas estrelas reconditas que já não se consegue mais ver nos nossos céus poluídos, Elomar me disse:- Pode vir quando quiser. Deixe só eu ajeitar a casa, que não está boa, e afastar um pouco dali minhas cascavéis e minhas tarântulas...


É... Quem sabe não vai ser lá, no barato das galáxias e da música de Elomar, que eu vou acabar amarrando um bode definitivo e ficar curtindo uma de pastor de estrelas..."


Vinícius de Moraes

Abril de 1973


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